A ameaça dos naufrágios nazistas à costa brasileira
O Brasil tem enfrentado diversas ameaças ambientais provenientes do mar, além dos grandes derramamentos de petróleo. Em 2018, surgiram fardos de látex, originários de navios nazistas naufragados durante a Segunda Guerra Mundial, em praias de estados nordestinos. As caixas, pesando até 200 kg, foram inicialmente encontradas em Sergipe e Alagoas, mas também foram reportadas em Pernambuco, Paraíba, Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul.
Pesquisadores da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) e da Universidade Federal do Ceará (UFC) realizaram simulações matemáticas que indicaram a origem dos fardos, demonstrando que estes estavam contidos em dois navios afundados. De acordo com os estudos, há pelo menos 548 navios afundados no Atlântico Sul, sendo 53 de origem nazista, e muitos deles transportavam cargas poluentes, incluindo petróleo. O professor Marcelo Soares, do Labomar, ressaltou a ausência de monitoramento dos naufrágios, o que representa um risco para o meio ambiente.
Os naufrágios se acumulam devido a conflitos armados, especialmente as duas guerras mundiais. No mundo, estima-se que existam 3 milhões de embarcações afundadas, das quais 8,5 mil são consideradas potencialmente poluentes. A maioria é de navios que transportavam materiais críticos, como borracha, metais e combustíveis. O afundamento ocorreu em tentativas de contornar bloqueios navais impostos pelos aliados durante a guerra, resultando em um legado perigoso para as águas brasileiras.
A investigação do Labomar revelou que os fardos encontrados em 2018 eram originários do navio MS Rio Grande, afundado em 1944, e que novos fardos em 2021 provieram do MS Weserland. Este último estava a 5 mil metros de profundidade, demonstrando a dificuldade de acesso e monitoramento.
Os pesquisadores afirmam que a deterioração dos cascos e a exploração por empresas irregulares podem estar contribuindo para o vazamento de cargas. Eles apontam que a falta de uma legislação adequada para regular e monitorar os naufrágios é uma questão crítica. Atualmente, a Marinha Brasileira realiza inspeções, mas o número de embarcações monitoradas é insuficiente, considerando o volume de incidentes de derramamento de óleo nos últimos anos.
Além da poluição causada pelos fardos de borracha, os naufrágios também representam uma oportunidade para a introdução de espécies invasoras. Pesquisadores indicaram que esses naufrágios servem como substratos para a colonização de novas espécies, alterando ecossistemas locais.
A proposta de um mapeamento dos naufrágios naufragados está em desenvolvimento na UFC, visando identificar e classificar os riscos que estes representam para a costa brasileira. No entanto, a tarefa é complexa devido à profundidade em que muitos dos navios estão localizados. A situação exige atenção e ação, pois a chegada de poluentes ao litoral é uma questão urgente que precisa ser abordada por meio de legislação eficaz e monitoramento constante.
*Com informações da DW.
Relacionado
Redação do Jornal Grande Bahia