Exclusivo: O que diz o STJ ao rescindir a delação da desembargadora do TJBA Sandra Inês Rusciolelli e do filho; Processo é decorrente do Caso Faroeste e envolve Nelson Vigolo e a Bom Jesus Agropecuária
Em 7 de novembro de 2024, o Superior Tribunal de Justiça (STJ), por decisão do ministro Og Fernandes, determinou a rescisão do acordo de delação premiada firmado pela desembargadora afastada do Tribunal de Justiça da Bahia (TJBA) Sandra Inês Rusciolelli e seu filho, o advogado Vasco Rusciolelli. A medida foi tomada após ambos descumprirem obrigações previstas no acordo, incluindo a ausência em audiências judiciais, o não pagamento de parcelas de uma multa estipulada e a falta de alienação de bens, entre eles um imóvel de luxo avaliado em R$ 4,5 milhões. A delação, firmada em 2021, foi histórica por ser a primeira do tipo envolvendo uma magistrada no Brasil. O processo está relacionado ao Caso Faroeste e à disputa sobre as terras da antiga Fazenda São José, em Formosa do Rio Preto. Segundo o Ministério Público Federal (MPF), o empresário Nelson Vigolo, presidente da Bom Jesus Agropecuária, atuou como corruptor. Ele se tornou delator, e a empresa firmou um acordo de leniência. Curiosamente, no entanto, ficou com o resultado do crime: o controle das terras no Oeste da Bahia.
Apesar da rescisão, o ministro ressaltou que as provas obtidas durante a colaboração da desembargadora e do filho advogado continuarão válidas e poderão ser usadas em investigações e processos relacionados. A decisão foi motivada por solicitação do Ministério Público Federal (MPF), que argumentou que os delatores não cumpriram com os compromissos assumidos, como participar das audiências judiciais. Além disso, o MPF apontou que Sandra Inês e Vasco Rusciolelli ameaçaram utilizar o direito ao silêncio durante os depoimentos, o que foi interpretado como um ato de má-fé e violação ao acordo firmado.
Outro ponto destacado na decisão é que Sandra Inês admitiu, posteriormente, ter firmado o acordo de colaboração premiada apenas para beneficiar seu filho, sem confessar a prática de crimes que lhe eram imputados.
A Operação Faroeste investiga um complexo esquema de corrupção no Judiciário baiano, incluindo a venda de decisões judiciais relacionadas a disputas fundiárias na região Oeste da Bahia. A rescisão do acordo marca um desdobramento significativo no caso, reforçando a gravidade das acusações contra a magistrada e seu filho, enquanto mantém a validade das provas obtidas para sustentar futuras ações judiciais.
O esquema de corrupção foi detalhado pelo advogado e ex-servidor do TJBA Júlio César Cavalcanti Ferreira, outro colaborador da operação, que revelou a participação dos envolvidos e forneceu elementos probatórios, como registros de transferências financeiras ilícitas.
Entenda a decisão do STJ sobre a rescisão da delação dos Rusciolelli
O Acordo de Delação e as Obrigações Descumpridas
Sandra Inês e Vasco firmaram um acordo de colaboração premiada com o Ministério Público Federal (MPF) em 2020. O pacto previa a renúncia ao direito ao silêncio, o comparecimento a audiências e a alienação de bens como forma de reparação de danos. Em contrapartida, os colaboradores obtiveram benefícios legais, como a conversão de prisão preventiva em prisão domiciliar e a exclusão de algumas penas.
Entretanto, segundo o MPF, os dois deixaram de comparecer a audiências e manifestaram intenção de permanecer em silêncio durante as oitivas. Além disso, a alienação de bens, incluindo um imóvel avaliado em R$ 4,5 milhões, não foi realizada.
Decisão do STJ: Rescisão do Acordo e Consequências
Em 7 de novembro de 2024 (quinta-feira), o ministro Og Fernandes, relator do caso no STJ, determinou a rescisão do acordo colaboração premiada de Sandra Inês Rusciolelli e Vasco Rusciolelli. Na decisão, são destacados os seguintes pontos:
A defesa de Sandra Inês argumentou que o acordo havia sido firmado apenas para proteger seu filho e alegou vazamentos de informações confidenciais. Contudo, o STJ rejeitou as alegações, destacando que a colaboração foi homologada de forma legítima e que não houve comprovação de prejuízo causado por vazamentos.
Impactos no Combate à Corrupção e na Operação Faroeste
A Operação Faroeste é considerada uma das maiores investigações sobre corrupção no Judiciário brasileiro. A rescisão do acordo de colaboração de Sandra Inês reforça a necessidade de rigor no cumprimento das condições impostas aos delatores e evidencia a relevância das provas obtidas para o avanço das apurações.
A 5ª fase da operação marcou o combate à corrupção no sistema judiciário, expondo os vínculos entre poder político, justiça e setor empresarial. A prisão de Sandra Inês e o indiciamento de outros envolvidos destacaram a gravidade do esquema.
Apesar de avanços, a permanência das terras sob controle do Grupo Bom Jesus Agropecuária evidencia desafios no enfrentamento à corrupção e na reparação dos danos causados. As investigações continuam, prometendo mais revelações sobre o caso.
O caso também demonstra os desafios enfrentados pelo sistema judicial ao lidar com acordos de delação premiada, que exigem equilíbrio entre incentivos à colaboração e a aplicação de sanções em caso de descumprimento.
Contexto da decisão do STJ que rescindiu a delação dos Rusciolelli
- Operação: Faroeste
- Investigados: Sandra Inês Rusciolelli e Vasco Rusciolelli
- Foco da investigação: Corrupção em conflitos agrários no oeste da Bahia
Decisão Judicial
- Tribunal: Superior Tribunal de Justiça
- Relator: Ministro Og Fernandes
- Motivo da rescisão: Descumprimento de obrigações do acordo
- Consequências: Perda de benefícios e manutenção das provas obtidas
Acordo de Delação
- Homologação: 2021
- Benefícios obtidos: Prisão domiciliar e exclusão de algumas penas
- Obrigações descumpridas:
- Ausência em audiências
- Falta de alienação de bens
- Declarações de silêncio nas oitivas
Impactos
- Reforço do rigor em acordos de colaboração
- Validade das provas para outras investigações
- Continuidade da Operação Faroeste no combate à corrupção
STJ torna ré Sandra Inês Rusciolelli e mantém afastamento por venda de decisões no TJBA
Em 6 de novembro de 2024, por favorecer interesses privados mediante pagamentos milionários, STJ aceitou denúncia do MPF contra a desembargadora do TJBA Sandra Inês Moraes Rusciolelli Azevedo, acusada de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e organização criminosa na Operação Faroeste, que apura a venda de decisões judiciais sobre terras da Fazenda São José, em Formosa do Rio Preto, Bahia. Também foram denunciados Vasco Rusciolelli Azevedo, advogado e filho da magistrada; Júlio César Ferreira Cavalcanti, advogado e delator; Nelson José Vigolo, presidente do Grupo Bom Jesus Agropecuária e delator; e Vanderlei Chilante, advogado da empresa.
Principais Dados da 5ª fase da Operação Faroeste
- Operação:
- Data da Deflagração: 24 de março de 2020.
- Fase: 5ª Fase da Operação Faroeste.
- Objetivo: Desmantelar esquema de corrupção envolvendo magistrados e advogados no TJBA.
- Prisões e Indiciamentos:
- Prisões: Sandra Inês Rusciolelli Azevedo (desembargadora), Vasco Rusciolelli Azevedo (advogado), Vanderlei Chilante (advogado).
- Indiciamento: Nelson José Vigolo (presidente do Grupo Bom Jesus Agropecuária).
- Ato Criminoso Principal:
- Mandado de Segurança: nº 0023332-59.2015.8.05.0000, relacionado a disputa fundiária na Bahia.
- Papel de Nelson Vigolo: Organizador da corrupção para influenciar decisões judiciais no TJBA.
- Colaboração do Criminoso Confesso:
- Criminoso Confesso: Júlio César Ferreira Cavalcanti, advogado e ex-servidor do TJBA, colaborou nas investigações.
- Monitoramento e Pagamentos de Propina:
- Data de Início das Atividades Ilícitas: Janeiro de 2020.
- Atos Monitorados: Reuniões, deslocamentos e pagamentos de propina, culminando na prisão em 24 de março de 2020.
Leia +
STJ rescinde primeira delação feita por uma desembargadora no Brasil e mantém provas; Caso de Sandra Inês Rusciolelli envolve Bom Jesus Agropecuária e a Operação Faroeste
Corte Especial do STJ torna ré a desembargadora do TJBA Sandra Inês Rusciolelli e prorroga afastamento no âmbito da Operação Faroeste
Outras Publicações
Carlos Augusto, diretor do Jornal Grande Bahia