Exportações da Indústria de Defesa no Brasil batem recorde em 2023, mas setor enfrenta desafios internos
A Base Industrial de Defesa (BID) brasileira alcançou um recorde em exportações neste ano, com o setor movimentando R$ 9,53 bilhões, o equivalente a US$ 1,65 bilhão, até o final do terceiro trimestre de 2023. Formada por 252 empresas, a BID responde atualmente por 3,58% do Produto Interno Bruto (PIB) do país e emprega diretamente 2,9 milhões de pessoas. A expansão das exportações, no entanto, ocorre em um contexto de desafios internos e falta de investimentos estatais consistentes, de acordo com analistas da área.
A BID no Brasil é composta por uma rede de empresas de diferentes portes, que vão desde grandes conglomerados, como a Embraer, a pequenas empresas voltadas a segmentos específicos de defesa. Marcos José Barbieri, economista e especialista da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), descreve o setor como uma base complexa e heterogênea, produzindo desde munições e armas leves até equipamentos avançados como caças e submarinos. O principal produto exportado pela indústria de defesa nacional são as aeronaves da Embraer, especialmente o C-390, avião de transporte que representa um avanço em valor agregado, permitindo que o setor alcance novos mercados internacionais.
Embora a expansão das exportações tenha um impacto positivo na economia, o foco no mercado externo não é considerado suficiente para garantir o desenvolvimento sustentado da indústria de defesa brasileira. Helio Farias, professor de economia de defesa na Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME), enfatiza que o papel estratégico da BID está intrinsecamente ligado à soberania nacional, com a capacidade de defesa sendo vista como um seguro contra pressões internacionais.
No entanto, a realidade orçamentária das Forças Armadas aponta para uma alocação de 78% dos recursos destinados a gastos com pessoal, restando uma parcela limitada para investimentos em equipamentos e desenvolvimento de tecnologias nacionais. O pesquisador Eduardo Siqueira Brick, da Universidade Federal Fluminense (UFF), observa que essa distribuição orçamentária limita o crescimento interno do setor, que depende de apoio estatal para se consolidar. Brick afirma que a BID opera em um “mercado monopsônio,” onde o Estado é o único comprador e financiador, sendo também responsável pela definição dos produtos e das capacidades de defesa do país.
Para especialistas, a exportação dos produtos de defesa é vista como uma ferramenta complementar para sustentar a BID, mas não substitui a necessidade de investimentos governamentais contínuos. Em países com indústrias de defesa robustas, é comum que representantes de alto escalão atuem na promoção de exportações para reduzir os custos de manutenção do setor. A situação no Brasil, porém, é descrita como uma “estratégia insuficiente” que expõe o país a uma dependência externa em temas de defesa.
A crise de segurança global, marcada por conflitos internacionais, reforça a importância de uma base industrial de defesa independente. Segundo Brick, a recente atenção internacional para áreas de conflito, como Ucrânia e Gaza, destaca a relevância de uma infraestrutura de defesa nacional autossuficiente. Apesar disso, ele aponta que as ações práticas no Brasil são insuficientes, com a Estratégia Nacional de Defesa (END) não considerando a BID como parte do núcleo essencial de defesa, o que é avaliado como um erro estratégico.
*Com informações da Sputnik News.
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Redação do Jornal Grande Bahia