Novo líder da Síria prioriza reconstrução nacional e suspensão de sanções
Ahmed al-Shara, conhecido como Abu Mohammed al-Jolani, líder do grupo Hayat Tahrir al-Sham (HTS), assumiu oficialmente a liderança da Síria após a queda do regime de Bashar al-Assad. Em entrevista concedida a jornalistas estrangeiros, realizada em Damasco, ele pediu à comunidade internacional que suspenda as sanções impostas ao país, permitindo que a Síria inicie sua reconstrução. Segundo al-Shara, as sanções afetam diretamente a população e dificultam a retomada de setores essenciais, como indústria, comércio e infraestrutura.
O novo governo sírio estabeleceu como prioridade o retorno de refugiados e deslocados internos, assim como a reconstrução de áreas devastadas pela guerra. Al-Shara afirmou que um censo populacional será realizado para atualizar o cadastro eleitoral e viabilizar futuras eleições. Ele destacou que, embora o formato do novo regime ainda não esteja definido, será promovido um congresso nacional para discutir e implementar medidas administrativas e políticas.
Em relação ao passado recente, o líder declarou que a transição do poder ocorreu de forma pacífica e com o mínimo de impacto sobre os civis. Ele enfatizou que o governo já começou a implementar as recomendações da Resolução 2254 do Conselho de Segurança da ONU, promovendo o retorno de deslocados e expulsando milícias estrangeiras. Contudo, ele pediu à comunidade internacional apoio para julgar crimes cometidos pelo regime anterior e para recuperar bens desviados.
Sobre a questão internacional, al-Shara negou intenção de promover conflitos com Israel ou outros países, afirmando que o objetivo do novo governo é garantir a estabilidade da Síria. Ele solicitou que o HTS seja removido da lista de organizações terroristas da ONU, argumentando que suas operações foram exclusivamente militares, sem alvos civis.
Em relação à anistia, o líder destacou que combatentes estrangeiros que lutaram ao lado do HTS terão sua situação regularizada por meio de uma lei. Já aqueles que desrespeitarem as novas diretrizes enfrentarão processos judiciais. Al-Shara concluiu a entrevista afirmando que a suspensão das sanções internacionais é essencial para viabilizar o processo de reconstrução e que os sírios não devem continuar sendo penalizados por crimes cometidos pelo regime deposto.
Síria enfrenta desafios para erradicar o tráfico de captagon após queda de Assad
A ascensão do grupo Hayat Tahrir al-Sham (HTS) ao poder na Síria trouxe à tona o debate sobre o futuro do captagon, droga sintética que se consolidou como a principal fonte de renda do regime deposto de Bashar al-Assad. Mohammad al-Jolani, líder da coalizão islamista que assumiu o controle de Damasco, prometeu erradicar a produção e o tráfico da substância. No entanto, especialistas avaliam que o processo será complexo devido à devastação do país, à ausência de alternativas econômicas e à alta demanda pelo produto no Oriente Médio.
Vídeos divulgados pelo HTS após a queda de Assad, em 8 de dezembro, mostram laboratórios de fabricação e depósitos da droga em instalações militares de Damasco e Latáquia, região predominantemente alauita e reduto do antigo regime. As imagens revelam comprimidos escondidos em máquinas e frutas, sugerindo o uso de métodos sofisticados para exportação. Conhecida como “cocaína dos pobres” ou “droga dos jihadistas”, a substância é amplamente consumida na região por seus efeitos estimulantes e pela discrição de seu uso em sociedades onde o álcool é proibido.
Caroline Rose, diretora do New Lines Institute, afirma que evidências já apontavam para o envolvimento direto do regime de Assad na produção de captagon em escala industrial. Segundo o HTS, Maher al-Assad, irmão do ex-presidente e comandante da Quarta Divisão do Exército, liderava o tráfico em parceria com Amer Jiti. O paradeiro de Maher permanece desconhecido, mas sua atuação foi crucial para contornar as sanções ocidentais e financiar o regime, gerando uma receita estimada em US$ 10 bilhões anuais.
Embora o novo governo sírio tenha iniciado a destruição de estoques da droga, especialistas avaliam que o tráfico não será eliminado de imediato. Caroline Rose aponta que a produção na Síria deve diminuir, mas destaca que outros países da região, como Líbano e Iraque, já possuem centros de fabricação. Além disso, a demanda por captagon continua alta, o que pode incentivar traficantes a expandir operações para locais como Kuwait.
Em seu discurso da vitória na Grande Mesquita Omíada, Mohammad al-Jolani acusou o regime de Assad de transformar a Síria no maior produtor mundial de captagon e prometeu “purificar” o país. Apesar disso, analistas de contraterrorismo acreditam que grupos rebeldes ainda dependem da renda gerada pela droga para se reestruturar militarmente, agravando os desafios do novo governo.
Nesta terça-feira, Jolani anunciou a dissolução dos grupos rebeldes e a integração de seus combatentes ao novo exército nacional, como parte de uma estratégia para estabilizar o país. Ele também pediu o fim das sanções internacionais e destacou que a reconstrução econômica será essencial para combater o tráfico de captagon. Investimentos externos poderiam viabilizar a criação de alternativas econômicas, permitindo à Síria superar o legado do narcotráfico e recuperar sua soberania.
*Com informações da RFI.
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Redação do Jornal Grande Bahia