O que diz o pesquisador Michael Kimmage sobre a Nova Ordem Mundial segundo Donald Trump
A análise levanta questões sobre o impacto de um eventual segundo mandato de Trump nos Estados Unidos e suas relações exteriores, especialmente diante de desafios estratégicos como a relação com a OTAN, a política comercial com a China e os conflitos internacionais.
Oposição ao Internacionalismo e o Alinhamento com Líderes Nacionalistas
Segundo Kimmage, Trump se opõe ao internacionalismo universalista, um modelo que dominou a política global desde o final da Guerra Fria. Seu pensamento está mais próximo da política externa baseada em interesses nacionais, o que o aproxima de líderes como:
- Vladimir Putin (Rússia) – Visão centrada na soberania nacional e oposição à influência ocidental.
- Xi Jinping (China) – Expansão econômica e militar para garantir o domínio regional.
- Narendra Modi (Índia) – Nacionalismo econômico e fortalecimento do país no cenário internacional.
- Recep Tayyip Erdogan (Turquia) – Política externa independente e distanciamento da OTAN em algumas frentes.
Essa tendência global indica um afastamento das políticas de cooperação multilateral e uma transição para modelos de governos nacionalistas e economicamente protecionistas.
A Transformação da Ordem Global
1. O Fim da Supremacia do Globalismo
- Após a Guerra Fria, a política internacional foi dominada pelo globalismo, incentivando a cooperação entre nações e instituições como a ONU e a OTAN.
- Trump e outros líderes contestam esse modelo, promovendo políticas baseadas em soberania e interesses nacionais.
2. Política Externa dos EUA Sob Trump
- Retração no apoio a alianças internacionais, como a OTAN e organizações multilaterais.
- Redução da presença militar americana em conflitos internacionais.
- Redirecionamento do foco econômico para acordos bilaterais em vez de tratados globais.
3. Impacto Econômico e Comercial
- Maior protecionismo e possível reavaliação de acordos comerciais, principalmente com a China e a União Europeia.
- Incentivo à produção interna e políticas de taxação para proteger a indústria americana.
4. Segurança Internacional e Conflitos
- Possível reaproximação com a Rússia, alterando o equilíbrio geopolítico.
- Retração do apoio incondicional a aliados estratégicos, como Ucrânia e Taiwan.
- Redução do envolvimento direto dos EUA em conflitos no Oriente Médio e outras regiões.
Possíveis Consequências para o Cenário Internacional
Caso o presidente Donald Trump adote essa abordagem no exercício do poder, a Ordem Mundial pode sofrer mudanças profundas. Kimmage sugere que, embora não seja um pacificador absoluto, sua política externa pode levar a um cenário menos propenso a guerras prolongadas.
Contudo, a retirada dos EUA de seu papel tradicional como mediador internacional pode criar vazios de poder que outras nações, como China e Rússia, poderão preencher.
Perfil de Michael Kimmage: Historiador e analista das relações EUA-Rússia
O historiador e especialista em política internacional Michael Kimmage é uma das principais referências no estudo das relações entre os Estados Unidos e a Rússia, bem como na análise da história diplomática e intelectual norte-americana. Professor titular e presidente do Departamento de História da Catholic University of America, em Washington, D.C., Kimmage construiu uma carreira acadêmica marcada pela pesquisa sobre a Guerra Fria, a política externa dos EUA e o impacto das ideias no cenário geopolítico global.
Além de seu trabalho acadêmico, Kimmage atuou entre 2014 e 2017 no Departamento de Estado dos EUA, onde foi responsável pelo portfólio Rússia-Ucrânia no Office of Policy Planning, unidade estratégica do governo norte-americano.
Formação Acadêmica e Trajetória Profissional
Natural dos Estados Unidos, Michael Kimmage iniciou sua formação acadêmica no Oberlin College, onde concluiu sua graduação em História em 1995. Posteriormente, obteve um segundo bacharelado pela University of Oxford (University College), em 1997. Retornou aos Estados Unidos para dar continuidade aos estudos na Harvard University, onde concluiu o mestrado em 2000 e o doutorado em 2004, ambos na área de História.
Desde 2005, Kimmage é professor na Catholic University of America, onde passou de professor assistente a professor titular e, em 2018, tornou-se chefe do Departamento de História. Além disso, lecionou como professor visitante na Ludwig Maximilian University, na Alemanha, e na Vilnius University, na Lituânia.
Entre 2014 e 2017, desempenhou papel estratégico no Departamento de Estado dos EUA, assessorando a formulação de políticas para a Rússia e a Ucrânia durante um período de tensão crescente nas relações entre Washington e Moscou.
Publicações e Contribuições Acadêmicas
Michael Kimmage é autor de diversos livros que analisam temas como política externa, ideologia e diplomacia. Entre suas obras mais relevantes estão:
- The Conservative Turn: Lionel Trilling, Whittaker Chambers and the Lessons of Anti-Communism (Harvard University Press, 2009) – análise do pensamento conservador nos Estados Unidos.
- In History’s Grip: Philip Roth’s Newark Trilogy (Stanford University Press, 2012) – estudo sobre o impacto da história na literatura.
- The Abandonment of the West: The History of an Idea in American Foreign Policy (Basic Books, 2020) – reflexão sobre o papel dos EUA na política global.
- Collisions: The War in Ukraine and the Origins of the New Global Instability (Oxford University Press, 2024) – análise dos impactos do conflito na Ucrânia para a ordem mundial.
Além dos livros, Kimmage é colaborador frequente de publicações acadêmicas e veículos de comunicação, como a Foreign Affairs, onde escreve sobre os desafios da política externa norte-americana.
Especialização e Influência no Debate Global
A atuação de Kimmage é marcada por uma abordagem crítica e histórica da política internacional. Suas principais áreas de pesquisa incluem:
- Relações EUA-Rússia
- História diplomática e política externa dos EUA
- Guerra Fria e suas consequências contemporâneas
Seu trabalho tem sido referência para diplomatas, analistas de política externa e acadêmicos, ajudando a compreender as transformações nas relações internacionais e os desafios da geopolítica global.
Fluente em russo e alemão, Kimmage também se dedica à tradução e análise de textos históricos, contribuindo para uma visão aprofundada das dinâmicas políticas entre o Ocidente e o Leste Europeu.
Atuação Atual e Impacto Acadêmico
Em 2024, Kimmage foi Richard C. Holbrooke Fellow na American Academy in Berlin, onde aprofundou suas pesquisas sobre as relações transatlânticas e os efeitos da guerra na Ucrânia. Seu mais recente livro, “Collisions”, examina os desdobramentos do conflito ucraniano e suas implicações para a estabilidade global.
Atualmente, continua suas atividades acadêmicas na Catholic University of America, além de manter um papel ativo no debate público sobre política externa e segurança internacional.
Carlos Augusto, diretor do Jornal Grande Bahia