Quem é Carlo Barbosa, considerado um dos principais nomes da história das artes plásticas em Feira de Santana
Antônio Carlos de Oliveira Barbosa, mais conhecido como Carlo Barbosa, nasceu em 1945, em Feira de Santana, Bahia. Desde cedo, demonstrou talento para as artes, começando a pintar de forma autodidata aos 15 anos, em 1960. A perda do pai, em 1961, teve um impacto profundo em sua vida e influenciou seu primeiro trabalho marcante, a tela “Apreensão”. Esse evento pessoal revelou o papel da arte como uma válvula de escape e expressão emocional para o jovem artista.
Sua primeira exposição individual ocorreu em 1965, na Prefeitura Municipal de Feira de Santana, quando Barbosa apresentou sua obra ao público local. Um ano depois, participou de sua primeira exposição coletiva, também em sua cidade natal, no Museu Regional de Feira de Santana. Com o tempo, sua arte foi ganhando destaque, refletindo tanto a cultura popular nordestina quanto influências religiosas, que se tornariam constantes em sua produção.
A Consagração no Cenário Nacional
A década de 1970 foi crucial para o reconhecimento de Carlo Barbosa como artista. Nessa fase, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde sua obra foi exposta em galerias importantes, como a Real Galeria de Arte e a Galeria Ponto de Arte. No entanto, foi em Salvador, sua terra natal, que sua produção artística alcançou uma notoriedade mais expressiva. Em 1986, o Museu de Arte da Bahia realizou uma exposição retrospectiva em comemoração aos 20 anos de carreira do artista. Essa exposição reafirmou a relevância de Barbosa no cenário da arte baiana e nacional.
Críticos como Walmir Ayala observaram que suas obras, especialmente as de temática religiosa, eram marcadas por um profundo respeito às suas raízes nordestinas, ao mesmo tempo que transcendiam o regionalismo, conectando-se com o imaginário popular e universal. Seus anjos, Cristos e figuras religiosas refletiam uma espiritualidade que ia além do catolicismo, trazendo uma sensibilidade única e mística.
Temáticas Religiosas e a Conexão com o Sertão
A produção artística de Carlo Barbosa se caracteriza pela forte presença de figuras religiosas, anjos e personagens da paixão de Cristo. Contudo, ele inseriu nessas representações uma fusão entre o sagrado e o popular, misturando símbolos do sertão nordestino, como o cangaceiro, em suas composições religiosas. Seus arcanjos, muitas vezes, vestiam chapéus típicos dos cangaceiros, criando um contraste entre o divino e o regional, como destacou o crítico Walmir Ayala.
Essa abordagem, ao mesmo tempo inovadora e fiel à sua origem, conferiu a sua obra uma qualidade de transfiguração, como se as cenas religiosas e festivas fossem transformadas e elevadas a um plano superior. Outro crítico, Carlos Eduardo da Rocha, destacou a habilidade de Barbosa em projetar suas raízes baianas no cenário global da arte, comparando sua produção com a de artistas medievais e barrocos.
Além disso, suas pinturas eram repletas de movimento e cores vibrantes, o que reforçava a intensidade emocional das cenas. Essa característica visual atraía o espectador, criando uma conexão imediata com a obra, independentemente do contexto cultural ou religioso.
O Legado e a Fundação Carlo Barbosa
Carlo Barbosa faleceu em Salvador em 28 de março de 1988, aos 42 anos, após uma carreira marcada por grandes contribuições ao panorama artístico brasileiro. Seu legado, no entanto, não se encerrou com sua morte. Em 2002, sua irmã Lucy Barbosa fundou a Fundação Carlo Barbosa, com o objetivo de preservar e divulgar o acervo artístico do irmão. O espaço abriga obras que refletem a trajetória do artista, desde seus primeiros desenhos até suas grandes composições.
Apesar do falecimento de Lucy antes de concluir todos os seus planos para a Fundação, a iniciativa contribuiu significativamente para a preservação da memória e do legado artístico de Carlo Barbosa. A galeria que leva seu nome, no Centro Universitário de Cultura e Arte da Universidade Estadual de Feira de Santana, também é um espaço dedicado a perpetuar a importância de seu trabalho.
Críticas
A produção artística de Carlo Barbosa foi amplamente elogiada por críticos renomados. Walmir Ayala, em sua análise, destaca a originalidade da obra do pintor, que conseguiu transfigurar cenas religiosas e populares em algo profundamente místico e emocional:
“Há um distanciamento benéfico entre autor e personagem, entre motivo e técnica, de forma a racionalizar, dentro do possível, uma obra tangida pela sensibilidade e memória mística de um artista de origem eminentemente popular”.
Carlos Eduardo da Rocha, por sua vez, ressalta o impacto da obra de Barbosa no cenário artístico:
“Barbosa, sem fugir às suas origens do sertão baiano, projeta no universal da arte sua pintura tão característica. (…) Encontro nele um parentesco incontestável com artistas do passado medieval e barroco”.
Acervos
- Fundação Nacional de Arte (Funarte) – Rio de Janeiro, RJ
- Museo de Arte Moderno – Assunção, Paraguai
- Museu Regional de Arte – Feira de Santana, BA
- Universidade Estadual de Feira de Santana – Feira de Santana, BA
Exposições Individuais
- 1965 – Feira de Santana, BA – Individual, no Salão Nobre da Prefeitura Municipal de Feira de Santana
- 1969 – Feira de Santana, BA – Individual, na Faculdade Estadual de Educação de Feira de Santana
- 1970 – Feira de Santana, BA – Individual, no Museu Regional de Arte
- 1972 – Rio de Janeiro, RJ – Individual, na Real Galeria de Arte
- 1973 – Rio de Janeiro, RJ – Individual, na Real Galeria de Arte
- 1974 – Londrina, PR – Individual, na Galeria Bahiarte
- 1975 – Rio de Janeiro, RJ – Individual, na Galeria Ponto de Arte
- 1976 – Salvador, BA – Individual, na O Cavalete Galeria de Arte
- 1977 – Brasília, DF – Individual, na Galeria Eucatexpo
- 1978 – Rio de Janeiro, RJ – Individual, na Galeria de Arte Borghese
- 1980 – Florianópolis, SC – Individual, na UFSC
- 1980 – Rio de Janeiro, RJ – Individual, na Funarte, Galeria Sérgio Milliet
- 1982 – Feira de Santana, BA – Individual, no Museu Regional de Arte
- 1982 – Salvador, BA – Carlo Barbosa: pinturas e desenhos, no MAM/BA
- 1983 – Rio de Janeiro, RJ – Individual, na Galeria Charting
- 1986 – Salvador, BA – Carlo Barbosa: exposição síntese comemorativa dos 20 anos de pintura, no Museu de Arte da Bahia
- 1987 – Feira de Santana, BA – Carlo Barbosa: exposição síntese comemorativa dos 20 anos de pintura, no Museu Regional de Arte
Exposições Coletivas
- 1966 – Feira de Santana, BA – Coletiva, no Museu Regional de Feira de Santana
- 1967 – Feira de Santana, BA – Artistas Baianos, no Clube de Campo Cajueiro
- 1971 – Salvador, BA – 1º Salão dos Artistas do Nordeste, no Teatro Castro Alves
- 1973 – Londrina, PR – Coletiva, na Galeria Bahiarte
- 1974 – Rio de Janeiro, RJ – Coletiva, na Galeria Ponto de Arte
- 1975 – Feira de Santana, BA – Novarte, no Clube de Campo Cajueiro
- 1975 – Rio de Janeiro, RJ – Coletiva, na Galeria Ponto de Arte
- 1975 – Salvador, BA – Coletiva, na Galeria O Cavalete
- 1976 – Rio de Janeiro, RJ – Temas Sacros na Arte, na Galeria Eucatexpo
- 1976 – Salvador, BA – Coletiva, na Galeria O Cavalete
- 1977 – Rio de Janeiro, RJ – 1º Salão da Ferrovia, na Associação de Engenheiros da Rede Ferroviária Federal – prêmio aquisição
- 1977 – Rio de Janeiro, RJ – 2º Salão de Artes Visuais da Casa da Bahia, no MEC – prêmio aquisição
- 1978 – Rio de Janeiro, RJ – 18ª Arte e Pensamento Ecológico, no Palácio da Cultura, Biblioteca Euclides da Cunha
- 1978 – Rio de Janeiro, RJ – Coletiva, no Iate Clube do Rio de Janeiro
- 1979 – Atami, Japão – 4ª Exposição de Belas Artes Brasil-Japão, no Templo Messiânico de Kyoto
- 1979 – Kyoto, Japão – 4ª Exposição de Belas Artes Brasil-Japão, no Museu de Arte Atami
- 1979 – Rio de Janeiro, RJ – 2º Salão da Ferrovia, na Associação de Engenheiros da Rede Ferroviária Federal – prêmio aquisição
- 1979 – Rio de Janeiro, RJ – 2º Salão Nacional de Artes Plásticas, no MAM/RJ
- 1979 – Rio de Janeiro, RJ – 4ª Exposição de Belas Artes Brasil-Japão, no Palácio da Cultura do MEC
- 1979 – São Paulo, SP – 4ª Exposição de Belas Artes Brasil-Japão, no MAM/SP
- 1979 – Tóquio, Japão – 4ª Exposição de Belas Artes Brasil-Japão, no Museu de Belas Artes Tokyo Central
- 1980 – Rio de Janeiro, RJ – 4º Salão Carioca de Arte, no Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro
- 1980 – Rio de Janeiro, RJ – Salão Nacional de Artes Visuais da Casa da Bahia, no MEC
- 1980 – São Paulo, SP – 2º Salão Brasileiro de Arte, na Fundação Mokiti Okada M.O.A.
- 1981 – Atami, Japão – 5ª Exposição de Belas Artes Brasil-Japão, no Templo Messiânico de Kyoto
- 1981 – Belém, PA – Coletiva de Desenho do Projeto Arco-Íris
- 1981 – Kyoto, Japão – 5ª Exposição de Belas Artes Brasil-Japão, no Museu de Arte Atami
- 1981 – Natal, RN – Coletiva de Desenho do Projeto Arco-Íris
- 1981 – Rio Branco, AC – Coletiva de Desenho do Projeto Arco-Íris
- 1981 – Rio de Janeiro, RJ – 5ª Exposição de Belas Artes Brasil-Japão, no Palácio da Cultura do MEC
- 1981 – Rio de Janeiro, RJ – 5º Salão Carioca de Arte, na Estação Carioca do Metrô
- 1981 – São Paulo, SP – 5ª Exposição de Belas Artes Brasil-Japão, no MAM/SP
- 1981 – Tóquio, Japão – 5ª Exposição de Belas Artes Brasil-Japão, no Museu de Belas Artes Tokyo Central
- 1982 – Recife, PE – 35º Salão de Artes Plásticas de Pernambuco, no Museu do Estado de Pernambuco
- 1983 – Rio de Janeiro, RJ – Dez Artistas Brasileiros
- 1984 – Madri, Espanha – Exposição Comemorativa aos Quinhentos Anos do Descobrimento da América – Prêmio Cristobal Colon de Pintura de La Union de Cidades Ibero-Americanas
- 1984 – Rio de Janeiro, RJ – Diretas Já
- 1984 – Rio de Janeiro, RJ – Flores Por Que Não?, na M.A.C Galeria
- 1986 – Feira de Santana, BA – Exposição Inaugural da Galeria Raimundo Oliveira, na Galeria Raimundo Oliveira
- 1986 – Feira de Santana, BA – Síntese da Arte Feirense, no Clube de Campo Cajueiro
Exposições Póstumas
- 2001 – Feira de Santana, BA – Individual, no Museu Regional de Arte
Bibliografia
- AYALA, Walmir. O Brasil por seus artistas. Rio de Janeiro: Círculo do Livro, s.d.
- CARLO Barbosa: pinturas e desenhos. Salvador: Museu de Arte Moderna da Bahia, 1982.
- ROCHA, Wilson. CARLO Barbosa: síntese 20 anos de arte. Feira de Santana: Museu Regional, 1987.
Leia +
Feira de Santana: A Galeria de Exposições Temporárias Carlo Barbosa do CUCA
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Redação do Jornal Grande Bahia