Relatório acusa pecuarista e empresas brasileiras de envolvimento no maior desmatamento químico do Pantanal

Relatório da ONG Mighty Earth revela que o pecuarista Claudecy Oliveira Lemes e as empresas JBS, Marfrig e Minerva estão envolvidos no maior desmatamento químico do Pantanal.

Um relatório divulgado nesta terça-feira (17/09/2024) pela ONG Mighty Earth, em parceria com a plataforma Repórter Brasil e a ONG holandesa AidEnvironment, aponta o pecuarista brasileiro Claudecy Oliveira Lemes e as empresas JBS, Marfrig e Minerva como envolvidos no maior desmatamento químico registrado no Brasil. O documento revela que um componente potente do “agente laranja” foi utilizado para devastar 81,2 mil hectares do Pantanal, a maior planície inundável de água doce do mundo.

O relatório, intitulado “Guerra Contra a Natureza”, destaca que o Pantanal está sob grave ameaça e que o desmatamento químico, classificado como “ilegal”, destruiu uma área equivalente a quatro vezes o tamanho de Amsterdã. A publicação surge em um momento crítico, quando a seca extrema e as mudanças climáticas estão exacerbando uma das piores temporadas de incêndios no Brasil em décadas, com autoridades atribuindo os incêndios a ações criminosas.

O pecuarista Claudecy Oliveira Lemes, proprietário de 11 fazendas em Barão de Melgaço (MT), está no centro da investigação. Embora tenha sido absolvido no início deste mês de acusações relacionadas à devastação de mais de 3 mil hectares, ele continua sendo investigado por desmatamento químico que pode superar R$ 25 milhões. No mês de abril, a Repórter Brasil revelou que Lemes vendeu gado à JBS em 2023. Além disso, a Mighty Earth aponta que a Marfrig e a Minerva também adquiriram animais de áreas devastadas por Lemes. A carne das fazendas de Lemes, especialmente da “Soberana”, é processada por JBS, Marfrig e Minerva e distribuída por grandes redes de supermercados no Brasil, como Carrefour, Casino/GPA, Grupo Mateus e Sendas/Assaí.

Desde 2022, as autoridades brasileiras investigam o uso de 25 tipos de agrotóxicos, incluindo o 2,4-D, um dos componentes do “agente laranja”, utilizado na Guerra do Vietnã pelos Estados Unidos. Mariana Gameiro, consultora da Mighty Earth, explicou que o desmatamento químico visa destruir a vegetação para expandir a criação de gado de forma dissimulada. Ela destacou que o impacto é abrangente, afetando não apenas a vegetação, mas também a fauna e a saúde das comunidades locais, além da qualidade da água.

Para a elaboração do relatório, as ONGs e a plataforma Repórter Brasil analisaram mais de 1.600 peças de carne em 120 supermercados de 52 cidades brasileiras entre outubro de 2023 e fevereiro de 2024. O documento também se baseou em rastreamento via satélite e transporte de animais. A Mighty Earth exige que JBS, Marfrig e Minerva investiguem as alegações e suspendam suas relações com responsáveis pelo desmatamento. Além disso, pede que os frigoríficos revelem o volume e a origem da carne comercializada e que os distribuidores apontados na investigação cessem suas relações comerciais com as empresas envolvidas.

Em resposta, a Marfrig afirmou que a Fazenda Soberana forneceu animais apenas para abate em setembro de 2018 e janeiro de 2019 e que a propriedade já não pertence mais à empresa desde março de 2019. A Marfrig destacou que mantém um sistema de geomonitoramento para garantir a conformidade das fazendas fornecedoras com critérios socioambientais e que a Fazenda Soberana está atualmente bloqueada devido a uma área embargada pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente de Mato Grosso (SEMA-MT). A empresa anunciou também a antecipação de sua meta de monitoramento de fornecedores indiretos para 2025, com destaque para a rastreabilidade em biomas críticos.

*Com informações da RFI.

Redação do Jornal Grande Bahia

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